Processe a primeira piada quem não a pescou

O grande problema do mundo é o humor. Não a falta dele, ou mesmo o mau humor, mas a piada na sua forma. Qualquer forma.

Quem fala, por exemplo, que a Segunda Guerra começou com o incêndio do Reichstag, mente. A Segunda Guerra começou com uma piada muito boa – logo incompreendida –  sobre judeus. E ela provavelmente foi feita por um judeu. Alemão, porém judeu.

Porque por mais que você tente trazer a compreensão, o riso, o escárnio, você recebe de volta pedras de preconceito daqueles que – a maior ironia das piadas é isso – deveriam entender e rir de seus problemas, sejam eles impostos por outros ou não. Se o mundo fosse um lugar legal, piadas com Auschwitz seriam piadas, e o Holocausto seria título de livros do Ari Toledo.

Mas você, que escolheu como meio de vida fazer graça de qualquer coisa que aconteça, cai no lugar-comum do politicamente correto, essa desgraça de termo que faz com que árabes queimem a bandeira da Dinamarca (ou de qualquer país branquelo – processem-me, azedos!) rpoque Maomé, o Profeta, foi desenhado com uma bomba na cabeça. Antes dissessem que a piada é ruim e tudo seria compreendido (se bem que eu adorei aquela outra, acho que da falta de virgens no céu de Alá, se a memória não erra).

E com isso é proibido fazer rir. Piada com negros, veto. Piadas com judeus, árabes, católicos, protestantes, Igreja dos Últimos Santos dos Últimos Dias das últimas horas, dos últimos minutos, dos últimos segundos, seu tempo acabou, veto. Piadas com brancos, veto. Sobraram os dinossauros, mas daí, que droga, ninguém me processa.

E a maior arma desta guerra é a tal da internet, onde o acesso aos seus escritos está escancarado para gente que não faz a menor idéia do que você quis dizer e, subvertendo tudo, busca no primeiro advogado que vê o consolo moral para esta macumba, digo, quizumba, que meia dúzia de palavras suas causaram. Abençoado seja (posso usar, católicos?) o livro e as notas de rodapé.

A coisa toda vira um paredão. Galera atira a esmo, esperando acertar uma anedota qualquer. “Tragam as tochas, ele falou da pobre menina que queria voar! Atirem naquele que chamou o presidente de burro! Vejam, ele não disse afro-brasileiro, queima, queima!” e por aí vai. Seria cômico se não fosse jurídico.

Por isso que é tudo culpa do Chaplin, do Woody Allen, do Seinfeld, do Leslie Nielsen. Assassinos, assassinos!

Um pensamento sobre “Processe a primeira piada quem não a pescou

  1. Gabi disse:

    Querido, é a dor da Marrom quando alguém se sente menos engraçado que você. Mas calma: não vou contar pra CIP sobre essas suas referências ao Holocausto.

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