A insustentável leveza do sustentável

Eu queria descobrir quem foi o cara que, na Eco 92, levantou a mão para falar de sustentabilidade. Porque eu lembro que até antes de 92 se falava do fim do comunismo, do Collor e do Guns and Roses. Essa história de ser sustentável não existia, ao menos no meu dia-a-dia.

Mas voltando, gostaria de conhecer o figura, sentar, bater um papo. Você pode pensar que eu na verdade sentaria a mão na orelha do infeliz, mas não, não é meu estilo. Tentaria, isso não tenho como negar, entender como ele conseguiu convencer grande parte da sociedade –  desde o quase presidente dos EUA ao internauta (eu gosto do termo, é o taikonauta da internet) que curte soja  – que esse negócio de sustentabilidade é o gel no cabelo do yuppie dos anos 2000.

Você pode apontar o dedo para mim como se eu fosse o senhor fabril que despeja resíduos nas águas claras do Tietê. Pode me chamar de poluidor, de anti-Capitão Planeta, do que você quiser. Mas esse negócio de ser sustentável, veja que irônico, está para lá de insustentável. Porque tudo hoje em dia tem de fazer bem para alguém. O que aconteceu com aquelas coisas boas que poderiam nos fazer algum tipo de mal? Até o sexo – a maior invenção humana, uma obra-prima nossa – pode fazer mal, pelo menos em grande parte da África. Porque então está todo mundo buscando essa perfeição toda, essa história de “tragam soja, ganhe uma caneca, beba água”. O que vocês querem fazer com o bife com batata frita e cerveja, afinal de contas?

Eu sei, eu sei, cada um escolhe o que quer, estamos em uma democracia, blablabla. Mas essa democracia criou um monstro que espreita a todos, que fica de campanha, olho na alça de mira, só esperando. Criou a candinha da janela, aquele que foi criado com o melhor Sustagem que a sustentabilidade pôde nos prover para apontar o dedo e reclamar que isso não é sustentável, que fumar faz mal, que trepar não é assim tão importante. E quando a gente paga na mesma moeda e manda ele enfiar o bife de soja (BIFE DE SOJA!) no olho do cu ele se revolta e proclama a Primeira Emenda, o Quinto Artigo, a ONG, a banca da rua que ele morava na infância.

As vezes eu paro para pensar nos caras da Primeira  Revolução Industrial. Imagina a patota lá, criando suas máquinas que funcionavam por partir do vapor e divagando “que foda, daqui vinte anos vamos voar e ter bife toda hora”. Fizeram visando o lucro, é claro, até para respirar nós visamos o lucro. Mas fizeram também com a boa intenção de não ver mais as pessoas acariciando ratos e jogando merda no chão. Coisa que a galera da soja adora, já que até a descarga anda meio na miguelagem em tempos de xixi no banho.

Agora imagina se tem um pau no cu falando de sustentabilidade naquela época? Como é que o descendente dele teria esse smartphone maneiro para criticar o bife, a cervejinha, o cigarro e a trepada se não fossem os pioneiros da primeirona? O problema, vejam, não é reclamar. O problema mesmo é que as pessoas reclamam demais. Inclusive eu, neste momento.

3 pensamentos sobre “A insustentável leveza do sustentável

  1. Lety disse:

    Ô imperador, eu posso ser sustentavel e ser insuportavel, mas defendo com unhas e dentes o direito de se trepar a toda hora! Desperdicio é miguelar trepada e tenho dito.

  2. tgsampaio disse:

    Muito bom, cara! que foi que houve com tua conta do twitter? Só encontrei a nova através do @fvanzo! Falou!

  3. Renan Oliveira disse:

    Vou dar uma de Deus no porta-mala com 34 ovos aqui.

    Eu tambem acho que todo o desenvolvimento que aconteceu nos ultimos seculos e mais que valido para termos a sociedade bem desenvolvida que temos hoje.

    Mas, esse metodo de vida nao vai levar a lugar nenhum. Nao estou falando de ecochaticese, como o xixi no banho – mas do repeito mutuo da sociedade.

    Se, a sociedade nao consegue trabalhar junto para o seu desenvolvimento, entao ta alimentando a segregacao racial, a violencia e mais do que isso: uma elite BABACA.

    entao, antes de chegar na ecologia e o qto de cfc que meu desodorante libera, ou como atravessar 45km por dia sem transporte publico, precisamos fazer com que todos crescam juntos. Tem que ajudar a distribuir educacao, tem que gerar emprego a longo prazo nas regioes mais pobres, tem que melhorar a remuneracao… o buraco e mais embaixo, e nao estou falando de quem sai prejudicado no sexo.

    – nao ta acentuado mesmo, errei um e fui marrento nos outros.

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