Tiro zero até no teste de vocacional

Quando eu pensei em fazer jornalismo, tinha sete anos de idade. Aquela velha história, é de menino que se corrompe a alma. Sendo assim, desde criança tinha a obssessão pelo texto (só obssessão, porque aprender que é bom, nada), queria conversar com as pessoas sobre o que elas faziam, contar histórias, esse tipo de coisa. Mas ainda pequeno, sonhava com o boa noite do Jornal Nacional. Sim, eu falaria com você, Brasil, e você responderia o meu boa noite.

O tempo passou e continuei com a história. Nunca fui bom de contas, Banco Real que o diga. Algo ligado a medicina envolveria, em algum momento da minha vida, ratos. E eu tenho um asco absurdo a este animal, a ponto de me comportar como uma bicha em uma liquidação depois de tomar seis Cosmopolitans. Flertei com o curso de História, pouco ligando se viraria professor ou não. Meu sonho era ser tal qual o Indiana Jones.

Mas a coisa seguiu para o jornalismo. Vi que meu forte não era TV. Tremia feito um virgem no puteiro em frente e atrás das câmeras. Sem contar que ser sucinto nunca foi o meu forte e o texto televisivo é rápido e mortal. Digressão, esse é o meu forte.

No rádio fui um pouco melhor, exceto claro pelos milhares de “puta que pariu” e “porra” que soltava quando esquecia o texto. Ou então o silêncio sepulcral quando todas as palavras sumiam. Me consolava que o público – estudantes da S. Judas, diferenciado – não via minha cara pelas ondas.

Mas o impresso sempre foi o meu forte. Não que meu forte signifique algo, posto que vocês podem averiguar quase que diariamente os textos daqui. Mas enfim, é onde me dava melhor entre os piores. Ponto para mim.

O que eu nunca imaginei, porém, é como seria se eu um dia entrevistasse uma pessoa a qual tenho devoção maior do que a de qualquer religioso nesse mundo. Se, por exemplo, Tom Wolfe aparecesse na minha frente, que diabos eu perguntaria? Fora o fato de que meu inglês é porco, eu simplesmente não conseguiria falar com o autor de Fogueira das Vaidades. Porque este livro em especial é um dos meus preferidos em toda a história da literatura. O que perguntar a um ídolo? “O senhor acha qu o novo jornalismo influenciou toda a forma de se escrever romances?”. “Na sua opinião, Sherman McCoy era mesmo um maldito filho da puta ou somente um homem a mercê das circunstâncias?”. “Como diabos o senhor fez para narrar o sonho do pianista em ‘Radical chic e o novo jornalismo’?”. “Se eu pedir um autógrafo na bunda, o senhor me dá?”.

Este talvez seja meu maior problema: eu trato pessoas criativas como estátuas. Se um dia ver o Spielberg na rua, eu pego e fico de olho nas pombas para impedir que elas maculem aquele monumento do cinema com o seu cocô. Juro que se o Dusek comprasse pão na mesma padaria que eu, faria questão de dizer ao padeiro que era injusto cobrar o pão do autor de “Brega Chique (E o vento levou…)”. E se Paulo Francis estivesse na banca de jornal, decidindo que tano o Estado quanto a Folha são uma merda? Acho que vomitaria, igual aquele personagem do South Park.

É por essas e outras que eu não presto como jornalista. Ajo por intuição, mas com isso eu também poderia ser tarólogo.

Porém, sem dúvida, reclamo de barriga cheia. Eu poderia ter virado blogueiro. Coitada da minha mãe.

2 pensamentos sobre “Tiro zero até no teste de vocacional

  1. Marcia disse:

    No meu teste deu na ordem: processamento de dados, direito e medicina. Como tava em dúvidas, escolhi a porta do meio. FAIL! =P

  2. Alfinete disse:

    todo mundo que flerta com o fracasso pensa em fazer história.

    mas só aquele que tem o fracasso correndo nas veis, faz a faculdade de história, termina e não satisfeito, vai tentar mestrado!

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