Daí que os caras do Impedimento fizeram um concurso literário para ganhar a camisa do Internacional ou do Grêmio. Pretenso colecionador que sou, escolhi a do Inter para participar. O lance era simples: bastava uma história fictícia sobre a camisa do clube que você escolhesse. O texto não passou pelo crivo da comissão julgadora, mas beleza, não se ganha tudo nessa vida. eis o texto, para tristeza de muitos.
Na beira do campo, o Karl coçava a barba com fervor. Não conseguia olhar os passes errados do Stalin, praguejava contra a mãe do matador Pol Pot e até o camisa 10 unânime, Lênin, era contestado.
– Mas que jogo de merda, Engels.
Friedrich, o Murtosa de outras eras, só olhava e cofiava o bigode.
O juiz apitou o fim do primeiro tempo. Jogando de azul, o time do Capital vencia o Comunismo por dois a zero. A mais-valia em campo estava mais inválida que o presidente Roosevelt. O Comunismo, de branco, foi para o intervalo.
– Mas que caralhas de apropriação é essa, camaradas?
– Pô professor, a zaga dos caras só tem beque barão de fazenda!
– Até tu, Lênin? Sério mesmo? Seguinte, vamos encarnar essa merda toda!
Havia dias que Marx pensava que algo estava fora de lugar. Não sabia se era o nome, se era a cor da camisa ou se era o Gorbatchev de volante. Alguma coisa ali parecia ruir a qualquer momento. Resolveu que aquela era a hora e, com tinta vermelha nas mãos, começou a manchar camisa por camisa.
– Que isso, fera?
– É o vermelho, Honecker. É a nossa cor, nosso manto. A partir de hoje jogamos de vermelho! E tem mais, acabou a bobagem de Comunismo Futebol e Cerveja. Agora somos o Internacional.
– Não é A Internacional, professor?
– Não, é O Internacional. Tem uma treta com naming rights.
O Internacional, ex-Comunismo Futebol e Cerveja e que nascera Socialismo de Futebol Científico Porto-Alegrense, voltou para o segundo tempo. A beira do Rio Guaíba, donos de fábricas e a alta burguesia esperavam com o límpido uniforme azul para sacramentar o resultado para o Capital. A bola começa a rolar e logo de cara Mao Tsé, o Zizao de outra época, manda na gaveta.
– Falei Engels, falei! Sou foda, cara!
Engels sorri, mas o bigode impede que vejamos.
O que era fausto ficou apertado. A conta não fechava para o Capital, que começou a ser pressionado pelo Internacional. A camisa vermelha parecia multiplicar-se em relação à branca. Gritos de VERMELHOU NO CURRAL A IDEOLOGIA DO FOLCLORE VERMELHOU e acordes de BRASÍLIA AMARELA escapavam da torcida em direção ao campo, impulsionando os jogadores agora encarnados. Aos 47 minutos o que parecia impossível aconteceu: penâlti para o time rubro. Yeltsin pôs a bola debaixo do braço e vaticinou:
– É tudo nosso, rapeize!
Compenetrado, correu para a bola como quem corre para salvar o mundo. O chute subiu tanto que acertou um muro em construção na avenida Goethe, derrubando tudo e agradando os populares.
Apesar da derrota, o Internacional saiu de campo orgulhoso de seu feito. Ali morria o Comunismo, Socialismo ou o que quer que tenha sido antes. Mas nascia o Internacional, cuja camisa rubra conquistaria feitos que aqueles jogadores jamais conseguiram em suas vidas. O maior deles, a conquista mundo, calhou de ser de uniforme branco. Mas todos sabem, no fundo, que se Gabiru estivesse de vermelho, lembraria Lênin nos seus melhores dias.
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Velho, esse post é duma genialidade sem tamanho!
Parabéns!